Dois Pés Esquerdos

Sabe a sensação de começar tudo com o pé esquerdo? Como se tudo que você começasse desse errado. Eu já me senti assim. Eu estava vivendo um período de ajustes em minha vida quando tudo que eu iniciava parecia desmoronar, como se eu não conseguisse sustentar decisões, rotinas, como se não tivesse forças para manter os projetos de pé. Foi quando desenhei Dois Pés Esquerdos. O desenho mostra a mesma personagem em duas versões, a que constrói e a que destrói. Enquanto a que constrói usa como molde as suas perspectivas de futuro, o que eu quis ilustrar usando a mesma cor dos olhos e do cabelo que constroem os castelinhos de areia, a que destrói demonstra quando aflição e culpa, além de ter dois pés esquerdos, como se não conseguisse de fato fazer algo diferente daquilo. A que constrói continua construindo, e a paisagem ao redor mostra o tempo acontecendo e outras formas de vida existindo. A vida continua. Parece um ciclo sem fim, mas existe vida fora. Cada castelinho que se vive já é algo que se vive, não é mesmo? E ao final de tudo, nossa vida não se resume a uma única cena.